A terceira onda de revoluções se aproxima

Por Saikat Bhattacharya, via Qutnyti, traduzido por Guilherme Laranjeira e Brunno Viotto

“Com a economia global capitalista abalada e a rivalidade geopolítica resultando na perturbação do comércio global, a situação está amadurecendo para a Terceira Onda de revoluções em todo o mundo. Sendo que a Primeira Onda inicia-se na Revolução Francesa, indo até a Comuna de Paris (1789-1871) e a Segunda Onda, partindo da Revolução Bolchevique para terminar na Revolução Sandinista da Nicarágua (1917-1979).”


O período entre a Primeira e a Segunda onda foi marcado pela transformação do capitalismo produtivo competitivo em capitalismo produtivo monopolista, e pela tendência dos países capitalistas avançados de conquistar sociedades pré-capitalistas, para então, transformá-las em parte da cadeia de suprimentos nacional do respectivo país.

Da mesma forma, o período entre a Segunda e a Terceira onda é marcado pela transformação do capitalismo produtivo monopolista em capitalismo financeiro monopolista, e, a cadeia de suprimentos nacional é substituída pela cadeia de suprimentos global. Portanto, os revolucionários precisam identificar tais mudanças e formular políticas de acordo.

As revoluções da Segunda Onda foram na maioria das vezes lideradas por marxistas-leninistas que, com anos de experiência e lutas, aperfeiçoaram os seguintes passos para realizar as revoluções:

Etapa 1: As nações devem ter o direito à autodeterminação (Finlândia tornou-se independente do Império Russo após a Revolução Bolchevique). 

Etapa 2: Reformas agrárias.

Etapa 3: Apropriação de pequenos produtores (kulaks apropriados por Estaline).

Etapa 4: Investimento planificado massivo, sem perspectiva de lucro, em: capital humano (educação e saúde); capital físico (infraestrutura e indústrias pesadas); capital digital (a 3ª e 4ª revolução industrial o tornou obrigatório).

Etapa 5: Permitir que a busca por lucro e o mecanismo de mercado aproveitem da mão-de-obra barata e produtiva no mercado global (reformas de Deng Xiaoping na China e também no Vietnã, Camboja, Laos e na Coréia Popular, ainda que com efeitos desacelerados pelas sanções).      

Etapa 6: A base de suprimentos, a renda per capita e a taxa salarial se tornarem altos o bastante para que o mercado global não seja mais suficiente para sustentar o crescimento. Assim, levar o estado e as empresas estatais à investir de maneira não lucrativa, mas produtiva, de forma a criar demanda (China sob Xi Jinping).

No século XX, a maioria dos países possuíam relações feudais de agricultura e, portanto, os revolucionários podiam começar da primeira ou da segunda etapa. O anti-imperialismo, o nacionalismo e a reforma agrária atraíram um grande número de pessoas para os partidos revolucionários no período de 1917 até 1979. No século XXI, estamos em uma situação em que diferentes países alcançaram um nível diferente de sucesso no que diz respeito às seis etapas acima, sob liderança burguesa ou revolucionária. Como resultado disso, os governos diretamente imperialistas são muito poucos em números, em vez disso, dentro de um país de Terceiro Mundo, um grupo étnico particular geralmente domina, gerando debates entre nações não-dominantes sobre a formação de nações (ou blocos) separados.

Os pequenos produtores são abundantes em números devido à falta de emprego nos modernos setores industriais ou de serviços, sendo que eles permanecem politicamente importantes, perpetuando a ineficiência e o baixo desenvolvimento das forças produtivas dentro de seus próprios países. Com o crescimento da cadeia de suprimentos global desde os anos 70, o capital é globalmente móvel, passando de países com taxas mais altas para aquele com menores taxas salariais, reduzindo em grande medida o poder de barganha da classe trabalhadora dentro desta nação. A classe trabalhadora fraca e a classe de pequenos produtores forte produz uma condição, em sua maioria, desfavorável para a revolução no país, isso está em nítido contraste com os tempos das revoluções da Segunda Onda, quando a classe trabalhadora, apesar de pequena em porcentagem da população, teve grande influência na produção devido ao seu poder de barganha dentro de suas nações.

Atualmente, precisamos observar cuidadosamente o quanto o comércio de Trump está enfraquecendo a cadeia de suprimentos global, e se a classe trabalhadora pode tirar proveito da situação em algum lugar do mundo. Alimentar tendências revolucionárias (o desejo de igualdade entre raça, nação e gênero) e omitir as tendências reacionárias (o desejo de privilégio em nome da raça, nação ou gênero) deve ser um ponto importante para conduzir as Revoluções da Terceira Onda.

América Latina

Para a América Latina, o escopo de nascimento de novas nações é extremamente limitado. A América Latina alcançou liberdade política no início do século XIX, durante as Guerras Napoleônicas da Europa, quando os governos espanhol e português estavam completamente impotentes para combater as revoluções nacionalistas. Diferentes nações evoluíram gradualmente depois de mais de um século de lutas, alguns países passaram por reformas agrárias parciais ou totais. Deve se ter em mente que sendo a maior e mais próxima economia e um importante destino de exportações para os países da América Latina, os EUA podem facilmente criar uma classe submissa e entreguista* e prevenir que os revolucionários sejam bem-sucedidos.

Devido à sua luta com o imperialismo estadunidense, os revolucionários precisam do apoio dos pequenos produtores, se um país latino-americano permanece fraco na apropriação dos pequenos produtores, a etapa 4, ou seja, o investimento massivo em infraestrutura básica de capital humano e físico também se torna difícil. Quando a infraestrutura básica permanece fraca, é impossível desenvolver as forças produtivas e subir na escala da cadeia de suprimentos global, assim, a exportação de matérias-primas se torna a única fonte de obtenção de divisas para estes países. Dessa maneira, a Armadilha da Renda Média se torna permanente.

A ascensão da China como um importante parceiro comercial dos países latino-americanos é de grande ajuda, pois somente após a ascensão econômica chinesa é que o monopsônio (monopólio como comprador) Ocidental no mercado global de petróleo terminou, no início dos anos 2000. É então que as forças anti-imperialistas começaram a chegar ao poder na Venezuela, na Bolívia, no Uruguai e no Brasil. Mas ignorar os EUA ainda é extremamente difícil devido à sua proximidade, isso é comprovado pelo fato de que as sanções estadunidenses mostraram que podem destruir a economia venezuelana, uma vez que o preço global do petróleo passou a cair em 2013. Portanto, os latino-americanos podem enfrentar a Armadilha da Renda Média por mais alguns anos, até que a importância dos EUA na economia global esteja desgastada.

Outro fato importante é que, como a Armadilha da Renda Média irá manter o PIB per capita estagnado e, portanto, a partilha igual de uma renda estagnada pode se tornar uma necessidade urgente da política popular. A desigualdade econômica somente é aceita quando toda a economia continua crescendo. A Armadilha da Renda Média, ironicamente, pode ajudar os revolucionários a partir dessa perspectiva. Dito isso, podemos concluir que a revolução latino-americana será de longo prazo, lenta e descontínua.

Gerenciar os pequenos produtores será uma parte essencial da revolução. Portanto, desigualdade econômica, desigualdade de gênero, e desigualdade de raça continuarão sendo importantes contradições. Os revolucionários devem buscar maiores investimentos em defesa e desenvolver as forças produtivas no país com a ajuda das forças imperialistas anti-EUA como a China, a Rússia, o Irã e a Coréia Popular. Se os revolucionários latino-americanos puderem criar um complexo industrial militar pelo menos ao nível do iraniano ou popular-coreano, o imperialismo dos EUA terá que se concentrar mais no seu quintal, forçando o império a cair ainda mais rápido diante da competição com a China, Rússia e Irã.

África Subsaariana

A África está experimentando uma alta taxa de crescimento populacional e, até 2040 se tornará o único continente que agregará pessoas à população mundial, já que todos os outros continentes terão taxas de mortalidade maior que a taxa de natalidade. Consequentemente, os africanos desempenharão definitivamente o papel mais importante no crescimento e na política global nos dias que virão. Mas, até agora, o alto crescimento populacional causou uma alta taxa de dependência (mais crianças e idosos do que aqueles em idade economicamente ativa). Vemos que, crescer economicamente não será fácil para a África. Além de algumas exceções como a Etiópia, ainda não existem muitos países apresentando um bom crescimento.

Além disso, o crescimento ainda é altamente dependente das exportações de matérias-primas, nota-se também que o desenvolvimento do capital humano ainda está atrasado. Atualmente, a única boa notícia é o investimento chinês nos países africanos, pois Capital físico e infraestruturas estão sendo criados com o auxílio destes investimentos, que também estão ajudando os países africanos a reduzirem sua dependência em relação aos seus antigos senhores coloniais do Ocidente, especialmente da França e dos EUA.

Na zona monetária do franco, a China superou a França como o principal investidor em diversos países. O atual presidente francês Emmanuel Macron, claramente deu a esses países um alerta contra o aumento da influência chinesa, em outros países africanos também a influência da China aumentou consideravelmente, mesmo  com as ameaças dos EUA. Essa rivalidade de poderes junto com altas taxas de pobreza podem criar uma situação de guerra civíl por procuração/guerras híbridas em África.

A presença de fortes laços tribais e também suas rivalidades podem acelerar ainda mais este processo, os revolucionários precisam se esforçar muito para inovar maneiras de colocar essas situações a seu favor, dado que as tensões tribais podem resultar no surgimento de novas nações. Fortes relações pré-capitalistas podem atuar tanto como agentes positivos da revolução quanto como agentes negativos da reação. Somente depois de lidar com isso que a questão do desenvolvimento bem-sucedido das forças produtivas pode surgir. É por isso que os revolucionários precisam de um ponto de apoio na África, pois o continente é certamente o futuro da humanidade!

Sul da Ásia

Esta região está cheia de potencial revolucionário. Índia, Bangladesh, Nepal e Paquistão, do ponto de vista demográfico, podem se tornar um exemplo impressionante de crescimento econômico. O Nepal já assistiu movimentos anti-monarquistas de comunistas armados e também a fusão bem-sucedida de comunistas armados e comunistas constitucionais, e, sua vitória eleitoral, pode vir a provar um novo modelo para os revolucionários do Terceiro Mundo nos dias que virão.

Muitos estrategistas militares sugerem que a marinha chinesa pode dominar o Oceano Índico até 2025, deste modo, a classe dominante indiana tem medo de que a Índia não possa resistir ao poder da China, ainda mais com suas divisões religiosas e étnicas. Vemos que o regime fundamentalista Hindutva de Narendra Modi (Partido Bharatiya Janata-BJP) chegou ao poder por conta desse estado profundo, com a esperança de que sua abordagem ultra conservadora e radical possa suprimir impiedosamente as minorias étnicas e as nacionalidades que buscam suas liberdades, de forma a auxiliar a Índia a combater o crescimento da China.

Os fundamentalistas Hindutva estão gradualmente destruindo as instituições democráticas liberais da República da Índia, e estimulando ainda mais as divisões étnicas, tanto em termos religiosos, como em termos linguísticos. A Índia, sendo um país enorme e com muitos recursos, tem conseguido planejar suas indústrias de infraestrutura com mais êxito do que outros países de Terceiro Mundo, apesar de não ter tido nenhuma reforma agrária significativa e de suprimir muitas de suas nacionalidades. Nota-se hoje que a Índia registra uma boa taxa de crescimento desde os anos 2000, mas os sinais de desaceleração agora são claros.

A Índia é dominada politicamente, demograficamente e, portanto, economicamente,  pelo “cinturão das vacas” (cow belt). Neste sentido, as etnias que não pertencem ao cinturão (minorias significativas) então gradualmente sentido o calor das políticas fascistas incorporadas pelo regime fundamentalista do BJP. Se os comunistas puderem organizar a emancipação nacional das etnias que não pertencem ao cinturão e, utilizar da rivalidade geopolítica da classe dominante indiana, a Índia será, definitivamente, um excelente lugar para uma revolução do século XXI. O movimento comunista já é forte em áreas que não pertencem ao cinturão, como em Bengala, áreas tribais da Índia central, e Kerala, no sul. Os movimentos comunistas indianos até agora dividiam-se entre a linha constitucional e a linha armada, entretanto, com a repressão causada pelas políticas fascistas Hindutva, eles podem ser compelidos a se unirem!

O Paquistão tem relativamente menos tensões étnicas (unidas pela religião), entretanto, sem nenhuma reforma agrária e não sendo tão dotado de recursos humanos e naturais, o país possui uma economia muito fraca, foi resgatado pelo FMI 18 vezes desde sua independência. O exército e a inteligência paquistanesa venceram da antiga superpotência URSS, e, agora, estão vencendo dos EUA no Afeganistão devido ao seu entendimento efetivo da mentalidade tribal afegã. Mas essas vitórias geopolíticas contribuíram pouco para energizar a economia do país. Além disso, os fascistas em ascensão do Hindutva indiano estão pressionando o Paquistão a continuar investindo muito em defesa, assim, o Paquistão pode ser forçado a fazer reformas agrárias e lutar contra sua classe capitalista feudal e entreguista. Há aí uma oportunidade que os revolucionários do Paquistão podem aproveitar.

Bangladesh, sendo um país de etnia mono-linguística e mono-religiosa, pode inspirar outras etnias do sul da Ásia a construírem seus próprios estados-nações, o Bangladesh teve um tipo de reforma agrária quando os proprietários de terras hindus deixaram o país em 1947. Seu desempenho econômico recente também é bem impressionante e é considerado por economistas globais como um dos futuros centros de crescimento econômicos, entretanto, problemas geopolíticos podem atrapalhar seu crescimento econômico. Migrações em massa de Rohingyas, devido à limpeza étnica de muçulmanos em Mianmar, resultou em um grande número de refugiados em Bangladesh, agora da mesma forma o regime fascista Hindutva de Nova Delhi, está falando sobre pressionar muçulmanos do leste da Índia para Bangladesh. Isso criará tensões profundas dentro de Bangladesh e acabará destruindo sua economia, neste sentido, os revolucionários podem também capitalizar em Bangladesh, apesar do fato de que os dois primeiros passos estão parcialmente completos aqui.

Sudeste da Ásia

No sudeste da Ásia, a Malásia, Cingapura e Brunei formam um dos casos ideais de desenvolvimento capitalista no Terceiro Mundo, um partido comunista liderou a guerra de guerrilha anti-imperialista e forçou o governo britânico a aceitar reformas agrárias e, também, a formar uma constituição que permitisse o direito à autodeterminação. Assim, estes três estados-nações gradualmente passaram a ser amigáveis após a saída britânica. A formação de Estados-nações e as reformas agrárias bem-sucedidas levaram ao rápido desenvolvimento desses países.

Vietnã, Camboja e Laos são estados socialistas de mercado e estão mostrando um crescimento considerável, esses países têm o potencial de crescer quase cinco vezes mais nas próximas duas décadas, em relação do que são agora. Outras economias que têm o mesmo potencial de sucesso, se incorporarem a maneira socialista, incluem as Filipinas, Mianmar, e Indonésia, todos eles, até agora, estão mostrando um crescimento médio entre 3 e 5 por cento. Eles são, principalmente, exportadores de matérias-primas e contam com a vantagem comparativa estática da mão-de-obra barata, estes países possuem poucas reformas agrárias, seu investimento planejado em infraestrutura é fraco, e, portanto, sua chance de desenvolver as forças produtivas utilizando do mercado global é limitada. Infelizmente, sob a atual liderança capitalista, eles estão destinados a cair na Armadilha da Renda Média, assim como a América Latina.

A Tailândia, por outro lado, já está presa nessa armadilha. A questão da determinação nacional é importante em cada um desses Estados. A Indonésia recentemente enfrentou protestos nacionalistas da Papua Ocidental, a Tailândia tem uma nacionalidade separada que busca províncias de maioria muçulmana no sul. Muitas etnias diferentes estão em conflito com o governo de Mianmar em suas fronteiras norte e leste, respectivamente, com a China e com a Índia.

As Filipinas têm uma província rebelde muçulmana e possui uma longa história de movimentos comunistas de guerrilha, a Indonésia também teve o terceiro maior partido comunista do mundo, que foi destruído pela classe capitalista dominante entreguista. Pode-se argumentar que as Filipinas, Mianmar e Indonésia podem ver a revolução se adequadamente conduzidas, mas um ponto deve ser lembrado: devido à proximidade com a China, essas economias terão maiores chances de crescer. À medida que a China tenta subir na escala da cadeia global de suprimentos, a produção de baixo custo passará para essas economias, desse modo a Armadilha da Renda Média pode não ser tão grave nesses países como é na América Latina.

O Ocidente (América do Norte e Europa Ocidental)

Um número recorde de pessoas apoiam o socialismo nos EUA hoje, mas a classe trabalhadora ocidental permanecerá em um dilema. Com o Terceiro Mundo, especialmente a China, crescendo e aumentando suas forças produtivas aproveitando de sua mão-de-obra barata, a classe trabalhadora ocidental precisa competir com essa mão-de-obra barata oriental. Desta forma, há uma crescente tendência fascista entre a classe trabalhadora ocidental de culpar a cadeia global de suprimentos e o desenvolvimento da China. A grande migração do Terceiro Mundo também está tornando a classe trabalhadora anti-migrantes. Vê-se que os fascistas estão obtendo sucesso político no Ocidente.

Como a liderança revolucionária do Ocidente pode lidar com isso?

Os revolucionários ocidentais devem propagar o fato de que se todos os países puderem aumentar suas forças produtivas, como a China, seu povo terá menos incentivo para migrar para o Ocidente, portanto, ajudar os países do Terceiro Mundo a crescer como a China é dever da classe trabalhadora ocidental. Para protegê-los dos efeitos nocivos da cadeia global de suprimentos, a liderança revolucionária deve apoiar barreiras no fluxo global de capital e bens.    

Mas como o Terceiro Mundo pode se desenvolver, então?

O Terceiro Mundo precisa do capital e dos mercados do Ocidente para obter divisas com as quais compra tecnologias superiores e aprende com elas, os revolucionários ocidentais devem fornecer novos esquemas econômicos pelos quais a tecnologia superior possa ser dada ao terceiro mundo de forma gratuita! Isso ajudará a classe trabalhadora ocidental a evitar as dores da cadeia de suprimentos global, bem como atualizar as forças produtivas do Terceiro Mundo.

Evidentemente, a economia global perderá, na forma de eficiência reduzida, entretanto a diferença entre o Terceiro Mundo e o Ocidente, em termos de forças produtivas e, portanto, de taxas salariais, será reduzida. Quando isso acontecer, a classe trabalhadora global sairá na vantagem, já que o capital global não poderá mais migrar de países com salários altos para países com salários baixos. Além disso, a classe trabalhadora ocidental precisa abordar a realocação de riquezas do comércio de ativos lucrativos, porém improdutivos, para gastos produtivos, mas não lucrativos, liderados pelo Estado.

China

Os revolucionários da Terceira Onda irão aprender muito com a experiência do Partido Comunista Chinês, a linha partidária de elevar as forças produtivas da China para o nível do Primeiro Mundo como principal contradição, provou ser perfeita. O partido também aperfeiçoou o modelo de desenvolvimento. Também está combatendo a hegemonia dos EUA nas seguintes frentes: Ideologicamente, contra a democracia liberal e o racismo; Economicamente, formando instituições multilaterais como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, o Novo Banco de Desenvolvimento, e a Belt Road Initiative (Iniciativa Cinturão e Rota); Militarmente, fortalecendo a marinha e o exército chineses.

Os revolucionários do globo devem também aprender como o Partido Comunista Chinês administra um grande setor privado e mantém a classe capitalista sob controle, ao passo que permite o pleno espírito do lucro e da motivação financeira. Esses mecanismo de controle devem ser entendidos de forma elaborada, somente então o Terceiro Mundo pode desenvolver suas forças produtivas rapidamente e reduzir a diferença em relação ao Primeiro Mundo. A China está agora desenvolvendo a Globalização 2.0, onde os investimentos em infraestrutura da Belt Road estão se tornando o principal motor da demanda global, em forte contradição com o Globalização 1.0, onde o mercado de comércio de ativos dos EUA dirigia a demanda global. De fato, essa é a frente principal do embate socialismo contra capitalismo, a guerra comercial do presidente Trump já está liderando a dissociação das economias EUA-China e isso apenas aumentará a competição entre as duas versões da globalização!  

Rússia e Europa Oriental

Os revolucionários russos devem aprender com a China e reavaliar o sucesso e a crítica da URSS Estaliniana, os revolucionários russos devem declarar a desestalinização como uma política errada! De forma similar, mudar o papel do Partido Comunista como vanguarda da classe trabalhadora avançada para vanguarda da massa também deve ser tido como um erro. A prescrição da Glasnost de desmantelar a ditadura do Partido Comunista estava entre os maiores erros. Acima de tudo, reivindicar uma economia planificada como um modo socialista de produção deve ser retificado.

As críticas do revolucionário chinês Mao Zedong em relação à Estaline, reside principalmente no fato de que o planejamento faz parte da superestrutura, e não da base. Isto posto, no socialismo, o modo de produção continuava sendo de mercadorias, assim como no capitalismo. Os russos também devem aprender com Deng a importância do mercado na alocação de recursos para o que os consumidores desejam, e também o papel do empreendedorismo privado para inovar novos produtos e identificar vantagens comparativas.

Uma vez que o empreendedorismo privado deve ter um papel, a ditadura da classe trabalhadora avançada (controle que limita os efeitos negativos do capitalismo oportunista) é ainda mais necessária para manter a classe capitalista sob controle. A Rússia sob Gorbachev trouxe empresas privadas e desmantelou a ditadura do Partido Comunista simultaneamente. Assim, os grandes oligarcas capitalistas obtiveram controle total da produção e do processo político, isso acabou por impedir a Rússia de ter bons efeitos no mercado e no empreendedorismo individual.

Os antigos países socialistas já estão registrando grande apelo em favor de seu passado socialista! A raiva contra as oligarquias, a economia fraca e a emigração dá aos comunistas na Rússia uma grande chance de voltar ao poder, mas antes disso, eles precisam corrigir os quatro erros citados acima, cometidos pelo Partido Comunista da União Soviética! O resto da Europa Oriental pode, neste sentido, seguir a Rússia.

Ásia Ocidental (Oriente Médio), Ásia Central e Norte da África

Do Afeganistão ao Marrocos está a região árida com poucos centros agrícolas, sua sociedade pré-capitalista consiste principalmente de comerciantes tribais de criação de animais e agricultores, o feudalismo típico não é muito proeminente nesta região. Assim, o escopo para a reforma agrária é muito fraco, tirando o Egito e o Iraque, o suprimento de petróleo e a renda alta do petróleo, desde a década de 1970, tornaram as forças modernizadoras ainda mais fracas.

Desde 1979, vimos a ascensão da política islâmica no Irã, Afeganistão, Somália, Iêmen, Líbano, Palestina e Iraque, o que mudou vitalmente a região, nota-se que algumas vezes os movimentos islâmicos apoiam o imperialismo, outras vezes se opõe a ele. O sucesso do Irã em ciência, tecnologia, esportes e geopolítica, mostra claramente que precisamos estudar essas revoluções com muita concentração. A vitória do Talibã no Afeganistão contra os EUA pode representar mais um sucesso nos próximos anos.

Em alguns casos, os comunistas se tornaram uma força considerável, como no Iraque, na Turquia, e no Curdistão autônomo da Síria, entretanto, eles são insignificantes se comparados com o crescimento do islamismo. Com a crise de baixos índices de nascimentos atingindo o mundo industrial nos dias que virão, as políticas islâmicas podem se tornar ainda mais fortes. Esta região está desenvolvendo suas dinâmicas próprias, com suas própria história e geografia, precisamos estimular tendências anti-imperialistas entre os muçulmanos, o que está claramente presente nos que se encontram no Afeganistão e no Irã.

Conclusão

Se outra crise atingir a economia estadunidense, o que é altamente provável, o mercado financeiro dos EUA será ainda menos importante para dirigir a demanda global. O modelo socialista chinês da Globalização 2.0 começará a dominar, os estrategistas dizem que a China já pode derrotar os EUA no campo Indo-Pacífico e, em 2025, a marinha chinesa será forte o suficiente para expulsar a marinha estadunidense da região Indo-Pacífica. É então que o poder brando (soft power) dos EUA começará a evaporar e muitos países do mundo entrarão em crise.

O crescimento econômico chinês criou um alto preço de matérias-primas e, portanto, muitos países do Terceiro Mundo desfrutam também desse crescimento, entretanto como o crescimento chinês está sendo moderado, o preço das matérias-primas está caindo, e, assim, muitos países do Terceiro Mundo estão sendo prejudicados economicamente. O fluxo global de capital também cairá ainda mais após a crise que se aproxima (já caindo desde a crise de 2008), impossibilitando para muitos países financiar o déficit de suas balanças correntes.

Assim, muitas economias estarão em pedaços, entre elas: os EUA, Rússia, Índia, Paquistão, Bangladesh e Indonésia podem ver uma ascensão de políticas revolucionárias. Enquanto nos EUA o principal problema para os socialistas é alocar recursos de Wall Street e do Pentágono para a infraestrutura e para gastos domésticos, na Rússia é a auto-suficiência da economia e a destruição do poder dos oligarcas que devem ser resolvidos.

Com o crescimento chinês moderado, a humanidade precisa de uma nova região de alto crescimento, Índia, Paquistão, Bangladesh e Indonésia, só podem liderar o mundo nessa perspectiva se passarem por uma revolução bem sucedida. Embora a crise econômica possa forçar o Paquistão a buscar uma revolução antifeudal contra a classe capitalista entreguista, é uma crise geopolítica que pode quebrar a classe dominante de Bangladesh.

Para a Índia e a Indonésia, crises econômicas, tensões étnicas e contradições geopolíticas com a ascensão da China, juntas, podem criar uma situação ideal para a revolução. O direito à autodeterminação das nações será a condição mais importante para revoluções na Índia e na Indonésia. A Primeira Onda teve sucesso apenas na Europa Ocidental e, parcialmente, nas Américas. A Segunda Onda teve sucesso no mundo não ocidental. Mas, a Terceira Onda tem chance de ter sucesso tanto em países ocidentais, como os EUA, quanto em países do Terceiro Mundo, como a Índia.

Sim, a Terceira Onda terá ainda mais sucesso que a Segunda Onda, assim como esta ùltima teve mais sucesso que a Primeira Onda. O progresso é inevitável.


Notas

*O autor utiliza o termo “comprador class”, optamos pelo uso de classe submissa/entreguista.

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1 comentário em “A terceira onda de revoluções se aproxima”

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